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Cerca de cinco meses depois da campanha Autarca pelo Bom Governo, focada nas eleições autárquicas, a Transparência Internacional Portugal apresenta o seu Caderno de Encargos para as Legislativas 2022, um conjunto de medidas que considera fundamentais para um país mais íntegro, mais transparente e livre de corrupção e que gostaria de ver nos programas eleitorais dos vários partidos.
Este caderno de encargos é uma compilação das várias medidas e propostas apresentadas ao longo da última década e que ainda não foram implementadas escritas de uma forma simples e direta.
De fora das sugestões ficam medidas que já foram aprovadas pelo executivo e parlamento e estão em vias de ser implementadas, como a pegada legislativa.
Esta, por exemplo, é uma recomendação feita em várias ocasiões no passado mas, como o Governo já se comprometeu em criar legislação nesse sentido, fica de fora do caderno de encargos.
Uma medida que não pode ficar de fora é, precisamente, a lei da regulação do lobbying. Tem sempre havido uma desculpa ou um detalhe de última hora que tem impedido a aprovação da lei no Parlamento, o que já nos levou a questionar quem anda a fazer lobbying contra a regulação do lobbying?
Mas a nossa maior recomendação aos partidos é a de que não esperem por um consenso no Parlamento para começar a implementar medidas como o registo de reuniões ou ofertas e hospitalidade. Não é precisa uma maioria parlamentar para que grupos parlamentares ou gabinetes ministeriais publiquem, por sua iniciativa, esta informação.
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POR INSTITUIÇÕES MAIS PRÓXIMAS E SOB ESCRUTÍNIO DOS CIDADÃOS
- Publicitação nos respetivos sites, das reuniões mantidas pelos gabinetes ministeriais e grupos parlamentares, deputados únicos com representação parlamentar e deputados não inscritos com representantes de interesses, públicos ou não públicos, nacionais ou internacionais, incluindo os de âmbito local e regional;
- Publicitação, no site do governo, das ofertas e hospitalidade aceites pelos membros do governo e respetivo staff, à semelhança do praticado pelo parlamento, em modo acessível, online, gratuito, integral e atualizado;
- Publicação no site do governo do processo legislativo do executivo, nomeadamente etapas de cada decreto e pareceres solicitados, à semelhança do praticado pelo parlamento, em modo acessível, online, gratuito, integral e atualizado;
- Promoção de uma participação mais alargada, inclusiva e representativa da sociedade civil no processo legislativo, alargando audições e solicitação de pareceres a organizações e movimentos sociais, bem como a especialistas nacionais e internacionais;
- Publicitação de pedidos de escusa por parte de membros do governo em processos de decisão devido a conflitos de interesse dos próprios na matéria em causa, em modo acessível, online, gratuito, integral e atualizado; e
- Reforço do processo de nomeação de titulares de altos cargos públicos, como governador do Banco de Portugal, Procurador-Geral da República e Presidente do Tribunal de Contas, sem necessidade de alterações constitucionais, através de proposta de três nomes por parte do executivo sujeitos audições parlamentares antes da nomeação final.
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PARA UMA CULTURA DE INTEGRIDADE
Reformulação da Comissão da Transparência da Assembleia da República, dando-lhe uma composição plural (podendo incluir deputados e ex-deputados, funcionários da Administração Pública, académicos, peritos externos e membros da sociedade civil), com a missão de averiguar situações de má conduta ética de responsáveis políticos, censurar ou sancionar casos de violação ética (remetendo para a autoridade especializada ou o MP suspeitas de violação da lei) e prestando aconselhamento aos deputados e à AR na gestão de eventuais conflitos de interesses e na fixação de normas internas de conduta
- Implementação de sistemas de contabilidade certificados que uniformizem a apresentação das contas de partidos políticos e candidaturas, bem como a publicação online, em dados abertos e em tempo real para acesso à contabilidade e aos procedimentos de contratação de bens e serviços;
- Implementação de regulação de condutas e conflitos de interesses em cada instituição, serviço e organismo, político ou público, incluindo governo e parlamento;
Códigos de conduta que contenham princípios gerais e abstratos são úteis, mas apenas na medida em que sejam acompanhados de regras claras, mecanismos de monitorização, recomendação e reporte, bem como sanções concretas e progressivas no caso de violação das regras estabelecidas. As regras devem ser avaliadas, atualizadas e difundidas periodicamente e atualizadas;
Publicitação de pedidos de escusa por parte de membros do governo em processos de decisão devido a conflitos de interesse dos próprios na matéria em causa, em modo acessível, online, gratuito, integral e atualizado
Inclusão de ponderações/conteúdos substanciais de formação, currículo e liderança ética e com integridade no recrutamento, seleção e/ou nomeação e avaliação de dirigentes superiores e intermédios, e demais lideranças públicas, bem como órgãos e agentes de soberania (ex.: magistrados). O recrutamento deve ser levado a cabo com base em métodos de seleção que no âmbito do respetivo quadro regulatório, extensível à formação dos respetivos júris.
PARA UMA BOA GESTÃO DOS RECURSOS PÚBLICOS
Configurando-se a regra geral da eficácia vinculativa às resoluções e pareceres da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos e alargando os seus poderes para monitorizar o cumprimento das suas decisões e aplicar sanções financeiras e disciplinares aos responsáveis das instituições que não cumpram as obrigações de publicação da informação e de disponibilização da mesma aos cidadãos
Para controlo de potenciais incompatibilidades e conflitos de interesses na contratação de consultoras jurídicas e financeiras pelo Governo, executivos locais, agências reguladoras e pela generalidade da administração pública. Membros de grupos de aconselhamento devem ser independentes e escrutinados sobre os seus reais ou potenciais conflitos de interesse
Através de:
- a implementação integral do Open Contracting Data Standard (OCDS), no portal dos contratos públicos (Portal BASE) e no Observatório das Compras Públicas.
- disponibilização de todos os contratos abertos por padrão (open by default) e públicos através da sua disponibilização online no portal dos contratos públicos (Portal BASE)
- interoperabilidade e intercomunicabilidade dos dados dos contratos públicos entre entidades públicas de gestão, controlo e financiamento.
- promoção da implementação de Pactos de Integridade entre os serviços e organismos públicos e a sociedade civil para contratos públicos;
- estabelecimento de um regime sancionatório por incumprimento do CCP e extensão do direito de ação popular, ambos em matérias relativas à falta ou insuficiência de transparência nos portais públicos, nomeadamente a partir de contratos com valor superior a 150 mil euros
- obrigatoriedade de identificação do beneficiário efetivo de toda a contratação e financiamento público, incluindo ato não onerosos, como subvenções, donativos, subsídios, etc.
PARA COMBATER A CRIMINALIDADE ECONÓMICO-FINANCEIRA
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- Reforço da eficácia e utilidade do Registo Central de Beneficiário Efetivo através de:
- acesso público aos registos;
- disponibilidade dos dados em formato aberto e exportável, adotando-se o Beneficial Ownership Data Standard (BODS);
- mecanismos de intercomunicabilidade de dados, de forma integral, que permitam uma fácil, acessível e imediata ligação entre o RCBE e sistemas de registo de contratação publica (por ex. BaseGov) e vice-versa.
- Transparência fiscal, nomeadamente sobre Projetos de Interesse Nacional, benefícios fiscais a pessoas naturais e coletivas e a Zona Franca da Madeira, e controlo e escrutínio efetivo sobre o cumprimento e condicionalidade dos regimes fiscais.
Não recebemos qualquer subsídio do Estado português para cumprir a nossa missão.
O trabalho que fazemos depende exclusivamente de contribuições financeiras de associados/as (quota anual de 12 euros), de donativos de simpatizantes da causa, e de subvenções para a realização de projetos.
Por isso, o teu contributo faz toda a diferença.