Paraíso

Aqui a polícia raramente entra, e as crianças brincam ao wowo, um jogo de morte com catanas, pedras, paus e até armas de fogo

No Paraíso mora sobretudo gente oriunda de províncias do Sul de Angola, que aí se fixou fugida dos conflitos armados opondo a UNITA e o MPLA durante o período de guerra civil já após 1992.

O bairro é considerado um dos mais violentos de Luanda.

Aqui a polícia raramente entra, e as crianças brincam ao wowo um jogo de morte com catanas, pedras, paus e até armas de fogo, copiado da vida de todos os dias feita sob controlo apertado dos gangues que disputam o bairro.

Os ativistas Cheik Hammed Hata e Hitler Samussuco, do Movimento Terceira Divisão, são os nossos guias no cimo deste morro alto a partir do qual temos uma das vistas mais inquietantes de Luanda.

Os moradores desconhecem os contornos dos concursos públicos e as empresas envolvidas na construção da ponte definitiva que haverá de ligá-los ao Mercado do Kikolo, essencial para a subsistência das pessoas que ali vivem.

A primeira estrutura desabou com as chuvas intensas que se fizeram sentir em 2013 e só em 2019 foi substituída pela ponte metálica que vemos agora, após sucessivas reclamações junto da Administração Municipal de Cacuaco.

Mas foi sorte que durou pouco tempo.

Em Agosto de 2020 também esta ponte metálica sucumbiu à força das águas e da torrente de lixo vinda da cidade.

Sem saneamento básico e dispositivos de higiene urbana capazes, a vale de drenagem que separa o Paraíso do Mercado do Kikolo acumula nas suas margens uma montanha de detritos, que torna ainda mais perigosa, se é possível dizê-lo, a vida de quem tem de atravessá-la todos os dias para sobreviver como pode, enquanto se aguarda pelas benfeitorias do PIIM.

O Plano Integrado de Intervenção nos Municípios é financiado em dois mil milhões de dólares retirados ao Fundo Soberano de Angola, outroragerido por José Filomeno dos Santos, filho do ex-Presidente, condenado pelo desvio ilícito de 500 milhões de dólares do Fundo Soberano para uma conta bancária em Londres.

A colaboração das autoridades britânicas permitiu a recuperação desse montante e a sua devolução a Angola.

José Filomeno dos Santos e Walter Filipe tiveram respetivamente penas totais de 5 e 8 anos de prisão efetiva, e Jean-Claude Bastos de Morais foi libertado depois de ter chegado a acordo com o Estado Angolano, cujos termos permanecem confidenciais.

Estima-se que este esquema, se não tivesse sido travado, poderia ter desviado do Fundo Soberano de Angola cerca de 1.5 mil milhões de dólares