Zango Zero

Mais de 10 anos depois as famílias continuam a habitar casas temporárias

Os Zangos são projetos de habitação social conhecidos como Centralidades construídos no perímetro urbano de Luanda para permitir às famílias angolanas ter casa própria a custos mais baixos.

A zona dos Zangos era originariamente uma área agrícola tradicional, habitada por agricultores vivendo das suas lavras. O Estado angolano transformou desse modo propriedades rurais em terrenos urbanizáveis e o processo de expropriação contemplava a troca de terrenos por casas e compensação financeira.

No site da Imogestin, uma das empresas responsáveis pela construção destas centralidades, pode ler-se que “permitiram a milhares de angolanos realizar o sonho da casa própria”, porém, tal sonho apenas se concretizou para algumas das famílias, sem que até agora se percebam exatamente os critérios de atribuição das casas.

Mais de 10 anos depois, a compensação nunca chegou às milhares de famílias deslocadas, que continuam a habitar casas temporárias sem as mínimas condições de salubridade.

Em fevereiro de 2020, o Serviço de Recuperação de Ativos da PGR de Angola anunciou a apreensão de mais de mil imóveis inacabados, edifícios, estaleiros e terrenos, situados nos Zangos, construídos com fundos públicos e que se encontravam na posse de capitais estrangeiros, através das empresas China International Fund-Hong Kong e China International Fund Angola.

O CIF foi fundado em 2003, para financiar projetos de infraestruturas em países em desenvolvimento. Em Angola, participou na construção de vários empreendimentos, incluindo o novo Aeroporto Internacional de Luanda.

Em 2015, as atividades do CIF diminuíram substancialmente devido à prisão na China do bilionário conhecido por Sam Pa – acusado de corrupção.

Este gestor, que também foi sancionado pelos Estados Unidos por suspeitas de corrupção,  assumiu os negócios chineses em África por muitos anos, e foi um dos principais parceiros da Sonangol, à época liderada pelo ex-vice Presidente de Angola Manuel Vicente, no seguimento da criação da China Sonangol, uma holding baseada em Hong Kong com participação da empresa estatal Angolana.

Vicente, acusado de corrupção e branqueamento de capitais em Portugal, foi administrador da China Sonangol e há suspeitas (não confirmadas) de que tenha beneficiado de negócios do CIF Angola, juntamente com os generais Dino e Kopelipa, através da Cochan, S.A.

E, de facto, em outubro de 2020, os dois generais foram forçados a entregar ao Estado bens e participações em empresas adquiridos com dinheiros públicos, num processo em que estão acusados de peculato, lavagem de capitais e burla relacionados com uma linha de crédito de 2,5 mil milhões de dólares concedida pelo Banco Industrial e Comercial da China a Angola através do CIF.

De entre os ativos apreendidos estão a centralidade do Kilamba, com um total de 251 edifícios e 837 vivendas, e as torres CIF Luanda One e CIF Luanda Two.

Os generais continuam a negar que sejam os beneficiários últimos dos imóveis apreendidos nos Zangos propriedade do CIF Angola, a que se juntam mais duas torres de 25 andares em Luanda.