RECUPERAÇÃO DE ATIVOS

Corrupção e direitos humanos

As vítimas da corrupção, afetadas pela expropriação do património que devia ser usado em prol do bem comum, são privadas do exercício pleno dos seus direitos cívicos e políticos. Ou seja, da liberdade.

Enquanto capítulo da Transparency Internacional, estreitámos sinergias com o Global Anticorruption Consortium (GACC) e juntámo-nos à campanha internacional da sociedade civil pela recuperação de ativos, que já deu frutos em França.

A condenação de Teodorin Obiang, filho do Presidente da Guiné-Equatorial a uma pena de prisão suspensa de três anos, uma multa de 30 milhões de euros e a confiscações de bens estimados em 150 milhões de euros, bem como a aprovação da lei francesa que determina a compensação das vítimas de corrupção através do financiamento de iniciativas de cooperação para o desenvolvimento, são marcos significativos no ativismo anticorrupção em defesa dos Direitos Humanos e em prol do Desenvolvimento Sustentável.

Através de acordos bilaterais e multilaterais e de mecanismos de cooperação judicial, Portugal colabora no esforço de prevenção e combate à corrupção e de recuperação de ativos, mas ainda há muito por fazer, por exemplo no quadro da CPLP.

Recuperação de Ativos

O que podemos fazer?

Portugal e o caso Luanda Leaks

Corrupção e Direitos Humanos

Angola
Guiné Equatorial
CPLP (global)

O papel de Portugal na recuperação de ativos

Portugal tem todas as condições para incrementar ainda mais o quadro jurídico e normativo de apoio às vítimas de corrupção na CPLP.

O que podemos fazer?
 
  • Incorporar os princípios GFAR e as recomendações da União Africana em matéria de recuperação de ativos;
  • Publicar informação atualizada sobre o congelamento, apreensão e confisco de bens, assim como os processos em curso e a quantidade de ativos envolvidos, discriminados por país de origem;
  • Criar uma estrutura formal para a gestão da recuperação de ativos independente, com poderes administrativos e responsabilidades de transparência e de prestação de contas, e que garanta que os ativos recuperados e devolvidos são efetivamente usados para o desenvolvimento sócio económico das nações afetadas;
  • Reconhecer que nos países impactados por fluxos financeiros ilícitos, a sociedade como um todo é vítima desse crime, ou seja, estabelecendo uma definição ampla do estatuto de vítima e dos danos sociais e coletivos provocados por tais fluxos;
  • Garantir que todas as partes interessadas dos países de origem, incluindo organizações da sociedade civil, participam nos processos de decisão relativamente ao retorno dos ativos recuperados;
  • Criar oportunidades para que as vítimas possam ser parte ativa nos processos judiciais em curso relativos a recuperação de ativos e ou de suborno de agentes públicos estrangeiros nas suas diferentes fases, e/ou que possam elas próprias requerer que se iniciem processos de restituição e/ou de compensação.

Portugal e o caso Luanda Leaks

Em janeiro de 2020 o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) revelou ao mundo o caso Luanda Leaks, demonstrando como Isabel dos Santos – filha primogénita de José Eduardo dos Santos, que governou Angola por mais de 30 anos – foi construindo um conglomerado de negócios que se presume sustentado no desvio e apropriação indevida de milhões de euros provenientes dos cofres de Angola, e no acesso a posições de controlo sobre setores estatais altamente lucrativos, como a exploração de diamantes e de petróleo.

Portugal é responsável pelo branqueamento de fluxos financeiros ilícitos provenientes de Angola

Não podemos continuar insensíveis ao papel desempenhado por advogados, auditores, consultores, reguladores, decisores políticos, e inclusive empresários portugueses, na reprodução da miséria extrema em Angola por força da corrupção e de esquemas de lavagem de dinheiro.

Portugal ignorou as recomendações internacionais em matéria de prevenção da Corrupção e do Branqueamento de Capitais

Ao longo de anos, Portugal ignorou as recomendações internacionais relativamente a PEPs, e com isso perderam não apenas os angolanos, mas também os portugueses.

Portugal falhou na supervisão do sistema financeiro

O papel dos supervisores e reguladores no caso Luanda Leaks tem sido questionado, e em particular a atuação do Banco de Portugal (BdP) relativamente ao EuroBic de Isabel dos Santos.

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Desde a eclosão do escândalo Luanda Leaks foram iniciados processos judiciais contra Isabel dos Santos e as suas empresas, em Angola e no estrangeiro, incluindo Portugal. Sendo que é justamente no nosso país que se encontram os principais ativos (conhecidos) de Isabel dos Santos fora de Angola.

Estas iniciativas são positivas e confiamos que os mecanismos de cooperação judicial serão capazes de devolver ao povo angolano o dinheiro roubado, mas não podemos ignorar que durante anos Portugal foi um dos principais países de destino dos capitais trazidos pela elite cleptocrática angolana, e por isso temos o dever de fazer muito mais.

Foto: Miguel Baltazar

Guiné Equatorial

A EG Justice, parceira da TI Portugal, publicou um trabalho de investigação sobre os esquemas de corrupção na Guiné Equatorial , expondo os negócios obscuros do regime de Obiang com empresas sediadas em Portugal, Moçambique, Brasil, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.

Há muito defendemos: que Portugal e a CPLP têm de incrementar os esforços e mecanismos anti-corrupção, mas também começar a ser responsabilizados pelas autoridades internacionais e a opinião pública enquanto facilitadores da grande corrupção na Guiné Equatorial

Foto: Tiago Petinga / LUSA

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