Níveis de percepção da corrupção continuam a aumentar em Portugal

A aprovação da Estratégia Nacional Anti-Corrupção não sossegou os portugueses: Portugal é o quinto país, a nível europeu, onde a corrupção é vista como um fenómeno generalizado, atrás da Grécia, Croácia, Chipre e Hungria.

A corrupção continua a ser uma preocupação séria para os cidadãos da União Europeia, com 68% a acreditar que a corrupção continua a ser um problema no seu país. Em Portugal, este número aumenta para 90%. Além disso, 51% dos portugueses inquiridos acredita que a corrupção aumentou em Portugal nos últimos três anos, número que contrasta com os 41% a nível europeu.

Estas são as principais conclusões do Eurobarómetro Especial sobre Corrupção, publicado esta semana pela Comissão Europeia, no mesmo dia em que foi também apresentado o relatório anual sobre a situação do Estado de Direito na União Europeia.

Nas recomendações aos Estados-Membros sobre o Estado de Direito, Bruxelas exorta o governo português a assegurar os “recursos suficientes para prevenir, investigar e julgar a corrupção”, defendendo a rápida operacionalização do novo Mecanismo Anti-Corrupção.

“A corrupção está no centro das preocupações da Comissão Europeia. Numa altura em que os Estados-membros já se encontram a executar os seus planos de recuperação e resiliência, é fundamental garantir que os fundos da União Europeia não se perdem em esquemas fraudulentos, porque disso depende igualmente a sobrevivência do projeto europeu. A corrupção mina a confiança nas instituições e Bruxelas não está imune aos seus impactos, ainda que os escândalos ocorram a milhares de quilómetros de distância”, defende Karina Carvalho, Diretora Executiva da TI Portugal.

Os dados do Eurobarómetro demonstram que 74% dos europeus acredita cada vez mais que a corrupção está generalizada nas instituições públicas nacionais, sendo que, em Portugal, este número aumenta para 86%. Seguem-se os partidos políticos (58% na União Europeia, 66% em Portugal) e os políticos a nível nacional, regional e local (55% no espaço comum europeu, 63% no nosso país).

80% dos inquiridos em Portugal acredita que as relações muito estreitas entre a política e as empresas conduzem a fenómenos de corrupção, número que não está muito longe da média europeia (77%). A existência de ligações políticas é vista, aliás, por 63% dos portugueses como uma forma de ter sucesso empresarial. A nível europeu este valor cai para 53%.

No que toca ao combate à corrupção, a pesquisa revela que os europeus são pessimistas quanto às medidas tomadas a nível nacional para combater a corrupção. Apenas uma minoria acredita que as medidas contra a corrupção são aplicadas imparcialmente e sem segundas intenções (37%); que existem suficientes acções judiciais bem sucedidas para dissuadir as pessoas de práticas corruptas (34%); que os esforços do seu governo nacional para combater a corrupção são eficazes (31%); ou que existe suficiente transparência e supervisão do financiamento dos partidos políticos no seu país (31%).

“É urgente que o combate à corrupção saia do papel. Ninguém compreende a utilidade de uma Estratégia Nacional ou de um Mecanismo Anti-Corrupção que não se materializam”, considera Karina Carvalho.

Consulta aqui os dados do Eurobarómetro Especial sobre Corrupção relativos a Portugal.

Consulta aqui a análise sobre Portugal do relatório anual sobre a situação do Estado de Direito na União Europeia.