Combate à corrupção em Portugal deixa de fora Governo e supervisor da banca, alerta Transparency International

O Índice de Perceção da Corrupção de 2021 – relatório produzido anualmente pela Transparency International, de que somos o representante português – aponta falhas no combate à corrupção em Portugal, nomeadamente na Estratégia Nacional de Combate à Corrupção, por deixar de fora do seu âmbito os gabinetes dos principais órgãos políticos e de todos os órgãos de soberania e, também, o Banco de Portugal.

Isto vem ao encontro não só do que temos vindo a dizer ao longo dos últimos meses, mas também das próprias recomendações do GRECO, que alertou, em abril do ano passado, para o facto de a ENAC ignorar, quase por completo, a questão da corrupção política.

Portugal subiu um lugar no Índice de Perceção da Corrupção de 2021, publicado pela Transparency International, e ocupa agora a 32.ª classificação. Com 62 pontos, volta a igualar a posição registada em 2019 e continua abaixo dos valores médios da União Europeia (64 pontos) e da Europa Ocidental e da União Europeia (66 pontos).

Se só subimos um ponto no Índice de Perceção da Corrupção é porque a Estratégia Nacional Anti-Corrupção não é de todo satisfatória. Ainda temos muito que trabalhar ao nível da grande corrupção e do reforço institucional para a prevenção da corrupção ao mais alto nível político e das instituições públicas.
Susana Coroado
Presidente da TI Portugal

Portugal é um dos 26 países da Europa Ocidental e União Europeia abrangidos pelo relatório em que não se registaram evoluções significativas na última década e desde 2012 que regista variações anuais mínimas. A pontuação é feita de 0 (país percecionado como muito corrupto) a 100 (país visto como muito transparente).

Resultados globais

Dinamarca e Nova Zelândia voltam a encabeçar o índice deste ano, com 88 pontos, a que se lhes junta a Finlândia, com a mesma pontuação. Síria e Somália (13) e Sudão do Sul (11) continuam no último lugar. Destes três países, apenas a Somália melhorou a sua pontuação (tinha 12).

O Índice de Perceção da Corrupção mostra que os níveis de corrupção permanecem praticamente inalterados em todo o mundo, com 86% dos países a registar pouca ou nenhuma evolução no combate à corrupção nos últimos 10 anos, o que indica uma estagnação dos esforços governamentais para combater as causas profundas da corrupção.

Mais de dois terços dos países têm uma pontuação inferior a 50.

A estagnação no combate à corrupção representa um grave problema para a Europa. Mesmo os países mais bem classificados têm tido grandes escândalos, revelando o perigo da falta de ação dos governos. Outros países permitiram que a corrupção alastrasse e vemos agora graves ataques às liberdades fundamentais dos cidadãos.
Flora Cresswell
Coordenadora regional da Transparency International para a Europa Ocidental

O relatório da Transparency International permite também concluir que países que violam as liberdades civis são os mesmos que apresentam pontuações consistentemente baixas no Índice de Perceção da Corrupção.

A complacência na luta contra a corrupção exacerba as violações dos Direitos Humanos e mina a democracia e a confiança nas instituições democráticas, desencadeando um ciclo vicioso. À medida que estes direitos e liberdades se desgastam, a democracia declina e o autoritarismo toma o seu lugar, contribuindo para níveis ainda mais elevados de corrupção.

Os Direitos Humanos não são um pormenor na luta contra a corrupção. As abordagens autoritárias destroem os controlos e equilíbrios independentes e tornam os esforços anti-corrupção dependentes dos caprichos de uma elite. Assegurar que as pessoas possam falar livremente e trabalhar coletivamente para poderem escrutinar e responsabilizar os governos é o único caminho sustentável para uma sociedade livre de corrupção.
Delia Ferreira Rubio
Presidente da Transparency International

Resultados da CPLP

Na edição de 2021 do Índice de Perceção da Corrupção, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa continua a demonstrar enormes debilidades, sendo claros os problemas de corrupção no setor público.

Dos nove países que constituem a CPLP, apenas São Tomé e Príncipe piorou a pontuação em relação ao ano anterior, enquanto Brasil e Cabo Verde mantiveram o mesmo valor. Todos os restantes melhoraram, ainda que não se trate de variações significativas.

À exceção de Portugal e Cabo Verde, todos os países da CPLP têm uma pontuação inferior a 50 – numa escala de 0 (percecionado como muito corrupto) a 100 (muito transparente). Dos nove, apenas quatro estão posicionados acima do meio da tabela: Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.